sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Asleep

Sobre a saudade que tenho de ti.

Claustrofóbica, que me devora como uma cadeia cavernosa para dentro da escuridão inescrutável. Dolorosa, como uma ferida que nunca cicatriza: uma marca eterna do que é viver sem ti. Impaciente, como uma criança que não consegue dormir sem o seu urso de pelúcia. Amaldiçoada pelo céu e pelo inferno, uma busca incontida que nunca chega a lugar algum. Imortal, mais longa que a eternidade, mais certa do que o nascer do dia.

Engolfa minha alma como belas chamas azuladas, quentes como se fossem pedaços do sol. Meu eu mais intransponível, minha luz mais inatingível, que reluzem e queimam em um espetáculo de dor e indagação.

Adeus de novo, amor.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fables and Fairy Tales


Bela Adormecida caiu num sono profundo após ter espetado seu dedo em um fuso de uma roca envenenada. Às vezes, penso que tenho mais em comum com ela do que imagino. Fico aí, assistindo os dias passarem lentamente, sentindo-me intoxicada pelas outras pessoas e por situações que me fazem querer dormir para sempre. E eu durmo. Durmo porque gosto de me livrar dos pesadelos que tenho enquanto estou com os olhos abertos. Durmo porque preciso me livrar da realidade irrefutável. Durmo porque já fui envenenada algumas vezes.

Branca de Neve deu uma única mordida em uma maçã que a colocou em um encanto de morte. Com esta personagem, tenho mais semelhança ainda. Com a mesma ingenuidade, não perceberia que estão me oferecendo um fruto que destruiria toda minha felicidade. Colho as mentiras que me oferecem, acreditando cegamente que são verdades. Não vejo as bruxas ocultas em velhinhas simpáticas. Mordo a maçã pelo menos umas cinco vezes ao dia, sempre sofrendo a mesma agonia, sempre acreditando que um dia me oferecerão uma maçã sem maldições. Mas nunca oferecem. Caio no mesmo leito de morte mil vezes. Não sou acordada por nenhum príncipe. Não há anões me rodeando e chorando meu calvário. Estou lá, apenas. Morta. Com a alma desfigurada por esperanças não realizadas.

Porém, às vezes, desperto. Acordo tarde para ver as estrelas emoldurarem o céu escuro. E, por um segundo, tudo faz sentido. Mas é por pouco tempo. Logo estarei revivendo todos aqueles pesadelos, quase esquecendo que não sou uma personagem de conto de fadas. Nem de um conto qualquer. Não estou num livro. Sou de carne e osso, enfrento cada dia todo o tipo de fantasmas, bruxas e maldições. Não é uma única batalha e ela nunca tem um fim. Ela só continua, dia-a-dia. Quase perco as esperanças. Mas então lembro que Cinderela achou que o seu conto de fadas duraria apenas uma noite. E vejo que ela estava errada. E vejo que eu estou errada. Vejo que não sei de nada, que belas histórias podem, talvez, sair do papel. E é por isso que eu acordo toda a noite para ver as estrelas. E, por um segundo, tudo fica bem.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Alive


A cidade era cinza, enegrecida pela poeira e pela escuridão dos cadáveres insepultos que ainda vagueavam em bandos pela alameda. O sol era dourado, mas o brilho estava opaco, quase morto; as estradas colecionavam passos de errantes, perdidos e baderneiros. Os cadáveres acreditavam firmemente que ainda estavam vivos e, como ignorantes, agarravam-se a esta ideia. O que seria a vida para eles? Vaguear por esta avenida escura todos os dias, sem saber o destino, desleais e impuros, torturados pelas chamas que incendeiam os próprios infernos? Eu olho pela janela, observo o céu escuro e nublado. Tenho meu inferno particular – de arrependimentos, histórias não terminadas, sonhos obstruídos. Tenho meu próprio porão de cadáveres – pessoas que matei em minha consciência, por ter medo de seguir em frente ou receio de conhecer totalmente. Teria eu matado a mim mesma? Andando neste tortuoso e impiedoso caminho, teria eu enlouquecido e dado cabo de minha própria alma? Serei eu um desses cadáveres? Minha cabeça fica confusa. Pareço viva? Estou respirando, isto é um bom sinal. Mas será que já não morri? Será que já não matei utopias demais pra poder me considerar viva? Não sei dizer. Mas pode alguém viver sem ilusão e fantasia?

sexta-feira, 20 de julho de 2012

What a wonderful life


Você saiu da minha vida do mesmo jeito que entrou: suavemente, sem avisar. Deixou as palavras soltas no ar, como orvalho congelado, que se derrete com a luz. Algumas ficaram impregnadas em minha pele e memória, duras, sem brilho, incapazes de se desvanecer com o tempo. Os dias passam lentamente, mas os anos correm. Foi uma vida maravilhosa, apesar dos tropeços. Não trago arrependimentos, não guardo lágrimas. Vazia e escura como uma noite sem estrelas, incapaz de sentir. O passado é minha história, meu início-meio-e-fim. Não há nada além de dor, escuto gritos torturados, mas sei que são apenas os fantasmas do ontem. Trancafio-os, deixo que apodreçam. Agora são irrelevantes. Agora eu só espero pelo sol. O sol que nunca chega. Ninguém mais lembra, mas eu sim. Foi uma vida maravilhosa.

sábado, 12 de maio de 2012

Angels lie to keep control


Brumas de amor fatigado, flamejantes chamas da agonia do crepúsculo, escuras ruas vazias e inconstantes... Resquícios de uma paixão esfacelada, de um sonho adormecido e de um cansaço permanente. Pessoas ocas andam perdidas como almas perturbadas e desesperadas, traçando caminhos tortuosos, arrastando corações partidos para a dor da morte. Estrelas cadentes que acendem espíritos angustiados e abraçam os medos dos cadáveres ressuscitados.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Broken dreams




Acordei cedo naquele dia. A chuva forte batia contra a janela, espalhando gotas que se assemelhavam a lágrimas vindas do céu. Preparei meu café, sentei-me no sofá, sozinha. Os lugares vazios ao meu lado me lembravam das escolhas erradas que eu havia feito na minha vida, nas pessoas que eu disse adeus, nos arrependimentos que hoje faziam minha alma mais pesada.
O dia transcorreu normalmente, como todos os outros. A minha única companhia foi um livro cujo já havia lido dezenas de vezes. Sentia que, se minha alma fosse palpável, seria como aquele livro. Velha, mas que tinha boas histórias para contar. Mas, quando eu parava para pensar, sentia-me desolada por ter perdido tantas oportunidades. Por não ter escrito um final mais bonito.
As estrelas já emolduravam o céu. A lua brilhava, trazendo-me mais um par de lembranças. Pensava se o meu único e verdadeiro amor, cujo eu havia dito adeus, estaria olhando para o mesmo céu. Logo afastei o pensamento bobo. Era evidente que não. Fechei a janela e fiz outro café, embora não fosse esta uma ideia muito inteligente para a insônia que passava. Acomodei-me novamente na poltrona. Devia ser assim que as pessoas com os sonhos flagelados se sentiam. Assim que as pessoas que deixaram seus amores ir embora terminavam. Assim que as pessoas que sufocavam as utopias no mais profundo porão de sua alma sofriam. Dessa mesma forma, como eu. Perguntava-me se alguém sofria desta mesma maneira ou se eu realmente estava só no mundo.
Quisera eu ter sabido que o meu único amor também lamentava ter ido embora enquanto olhava para a pálida lua no céu.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Long road without stars




Os seres humanos devem estar muito orgulhosos de si próprios. Construíram edifícios, monumentos, muros que já separaram nações, robôs e máquinas inteligentes. Mas mesmo assim, nenhum deles chegou lá. Tanta parafernália, tanto trabalho, tanto estudo, tanto suor que permeiam os dias de tantas pessoas... E para quê? Para dar um sentido à frívola existência vazia que temos? Para ocupar o período que compreende nosso nascimento até a morte? Qual é o verdadeiro sentido disto tudo?
Somos sete bilhões de pessoas no mundo. Mas, e todas as que já partiram? Milhões delas já foram mortas por nossas próprias criações, seja no trânsito ou pela mira de um revólver. Isso sem mencionar as bombas. Os ataques aéreos. As guerras. E para quê? Para construir uma sociedade melhor sob os cadáveres de inocentes?
É, sete bilhões de pessoas no mundo. Nenhuma chegou lá. A maioria está acorrentada a dogmas, alienada pela televisão, sem senso crítico para lutar por mudanças. Arrastando-se em sua vida vazia e sem significado. Assistindo ao Big Brother. Bisbilhotando a vida do vizinho. Lendo o horóscopo. Muito interessados no que as estrelas têm a dizer sobre o seu dia. Mas sem a mínima vontade de alcançá-las.