
Acordei cedo naquele dia. A chuva forte batia contra a janela, espalhando gotas que se assemelhavam a lágrimas vindas do céu. Preparei meu café, sentei-me no sofá, sozinha. Os lugares vazios ao meu lado me lembravam das escolhas erradas que eu havia feito na minha vida, nas pessoas que eu disse adeus, nos arrependimentos que hoje faziam minha alma mais pesada.
O dia transcorreu normalmente, como todos os outros. A minha única companhia foi um livro cujo já havia lido dezenas de vezes. Sentia que, se minha alma fosse palpável, seria como aquele livro. Velha, mas que tinha boas histórias para contar. Mas, quando eu parava para pensar, sentia-me desolada por ter perdido tantas oportunidades. Por não ter escrito um final mais bonito.
As estrelas já emolduravam o céu. A lua brilhava, trazendo-me mais um par de lembranças. Pensava se o meu único e verdadeiro amor, cujo eu havia dito adeus, estaria olhando para o mesmo céu. Logo afastei o pensamento bobo. Era evidente que não. Fechei a janela e fiz outro café, embora não fosse esta uma ideia muito inteligente para a insônia que passava. Acomodei-me novamente na poltrona. Devia ser assim que as pessoas com os sonhos flagelados se sentiam. Assim que as pessoas que deixaram seus amores ir embora terminavam. Assim que as pessoas que sufocavam as utopias no mais profundo porão de sua alma sofriam. Dessa mesma forma, como eu. Perguntava-me se alguém sofria desta mesma maneira ou se eu realmente estava só no mundo.
Quisera eu ter sabido que o meu único amor também lamentava ter ido embora enquanto olhava para a pálida lua no céu.