Cara Ana Luísa do futuro,
Se você está lendo esta carta é porque, aproximadamente, 10 anos se passaram. Ou seja, você está no ano de 2023. Parabéns se você conseguiu sobreviver até então. Isso quer dizer que você não ficou gravemente doente, nem se envolveu em um acidente de trânsito catastrófico e nem surtou com a pressão da sociedade desistindo de tudo e indo viver no meio da floresta. Então, creio que começamos bem.
Eu realmente espero que você esteja em um lugar melhor do que eu, neste instante. E, por “lugar”, não digo apenas o espaço físico. Espero que você tenha concluído o curso de Direito. Se sim, parabéns. Se não, parabéns também, porque sei que abandonar a zona de conforto também não é nada fácil. Espero que você tenha um emprego. Espero que você consiga sobreviver sozinha com o dinheiro do seu emprego. Mas, acima de tudo, espero que você goste do seu emprego. Mas, caso nada disso tenha se concretizado e você está presa em um emprego meia-boca, peço que vá procurar algo melhor. Faça isso por mim, o seu eu do passado. Porque, sendo você, sei que não há nada maior que a sua ambição e espero que você não tenha enterrado ela de vez quando seus sonhos começaram a morrer.
Gostaria que você estivesse bem emocionalmente. Mas se você não está, tudo bem. Só me prometa que nunca mais fez nada estúpido, como passar uma tarde andando na chuva para ver o pseudo-amor-da-sua-vida. Sério, não faça isso de novo. Sua vida não é um livro do Nicholas Sparks. Pare com as músicas depressivas. Ou pelo menos pare de tentar enquadrar sua vida nessas músicas. The Smiths é legal, mas não faça da sua vida uma melodia triste.
Espero que você tenha conseguido um autógrafo da J.K. Rowling. E acho bom você ter começado a escrever o seu livro, mesmo que seja só um esboço. Quem sabe um livro de contos? Tanto faz, só escreva alguma coisa, porque sei que isso sempre vai lhe fazer bem. The Beatles também lhe faz bem, lembre-se disso.
E caso nada tenha dado certo e você se encontra em um profundo e negro buraco emocional, continue cavando. Uma hora você sai desse buraco. Boa sorte.
Com carinho melancólico,
Ana Luísa do passado